quarta-feira, 26 de julho de 2017

Diálogos Intrasubjetivos IV: A mortalha do Ser

Seguia meus passos como se o caminho preestabelecido não fosse nada além de um retorno à realidade do que estava determinado a seguir. O barulho do trânsito, sirenes, freadas, buzinas enaltecendo o nervosismo das férreas armaduras motorizadas a receberem um autômato a lhes direcionar. Seguiam em seus corredores de gosma preta simbolizando o avanço da tecnologia sobre a natureza e, ao mesmo tempo, a utilização inconsequente do material impermeável a maximizar enchentes, a ignorância tecnológica sobre a sabedoria do pensar.

Paro na confluência de dois canais de massa asfáltica em frente ao semáforo vermelho para os pedestres. Nesse instante começo a sentir a presença de um certo ser saído dos mais íngremes e inóspitos penhascos do buraco negro de minhas entranhas...
Como vocês, os humanos são tão influenciados por seus sentidos mais rasos. Pare de lamentar do barulho atormentador, ponha o som de seu fone de ouvidos no máximo, sinta a melodia, Tango to Evora, de Loreena McKennitt. Pare de ver apenas o que lhe dizem ser a realidade, mire para cima, olhe o pôr-do-sol, sinta sua energia.
Não se prenda ao que lhe dizem ser o real, crie sua própria realidade. Pois lhe digo com toda convicção essa realidade que apregoam são os símbolos se passando por concreto puro. Nietzsche já dizia ser os que seguem as ideologias os verdadeiros niilistas e eu radicalizo a afirmação, quem se prende aos símbolos como se fosse o real também o são.

A justiça não é, nunca foi e jamais será justa! Ela é tão somente um arcabouço jurídico de uma determinada sociedade para estabelecer limites para as pessoas poderem viver com um mínimo de humanidade. Assim como esse exemplo, isso está em todo alicerce da realidade. Os que buscam e acreditam nessa justiça desencarnada, nessa metafísica a lhes prender estão aprisionados na ideia transmitida pelo símbolo, como se ele fosse a realidade. São títeres aprisionados por uma ideia, muitas vezes chegando ao ponto de matar e morrer por ela, sem perceber que ela não o conduz, ela o aliena, ela o mantém encarcerado num mundo de verdades criadas para escraviza-lo.

A realidade não é somente o que somos condicionados a ver. Levante os olhos e perceba que além desse mar de lama construído pelos humanos existe algo além. Para além do trânsito caótico e do nervosismo a aprisionar os autômatos humanos, existe o voo dos pássaros a bailar por cima de suas visões, existe a beleza efêmera e atordoante do pôr-do-sol. Pense como a Mitologia Grega, é Apolo em sua carruagem carregando nossa estrela para descansar. Findando esse ciclo, abre espaço para que as ninfas e os sátiros saiam a percorrer os campos dionisíacos. Ah... como é doce e encantador o aroma dos prazeres carnais que eles despertam. Olhe ali, aquela garota não é aquela que o atendeu na loja de produtos esportivos. Isso, dê um tchauzinho! Nossa que mina ela é! Ela sorriu. Sinta o aroma do sorriso dela, agridoce, leve e inebriante. Deixe-se levar pelos detalhes que a muitos passam despercebidos. Não se feche na masmorra da realidade simbólica, perca-se nos vãos! A realidade não é, nosso olhar a constrói! A verdade das coisas é sempre uma prisão que o impede de sentir as coisas de verdade.

Não existe eu, todo e qualquer ser humano é uma sociedade a ser explorada por e em si. Quem acredita saber quem é plenamente, conhecer sua essência, é um prisioneiro de verdades impostas a cegá-lo e conduzi-lo no trotar do rebanho ruminante como mais um arauto da mesmice. Agir assim é vestir a mortalha do ser a lamentar a vida! É a busca de auto-piedade por seus atos, na clausura da ideia a lhes condenar a não viver por amor à eternidade da morte.

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sábado, 24 de junho de 2017

Caminhos Temporais

Caminhos Temporais

A cada instante após nascer, 
Passamos a morrer para o tempo.

Cada segundo vivido...
É um segundo a menos, 
cada pulsar do coração...
É uma fadiga a mais para o músculo.

Como areia a escorrer pelos dedos, 
A oportunidade de saborear a eternidade de um instante desperdiçada
Não retorna, está perdida para sempre
Nos vãos do caminho por nós traçados

...
Rumo ao fim da existência.
Bethoven Soares Darcie